Torres-Atalaias

As atalaias (do árabe at-talai’a), são torres de vigia erguidas em posições estratégicas: terrenos elevados com amplo campo de visão, de onde se podiam detectar movimentos de tropas inimigas e controlar passagens, vias e portos sensíveis. Em articulação com as fortalezas mais próximas, integravam conjuntos defensivos que vigiavam o território circundante (1) e nas quais diversas torres atalaias dispostas em rede num raio de alguns quilómetros de distância permitia que as sentinelas transmitissem sinais de aviso sonoros ou visuais (por toque de sinos, fogo ou fumo) aos defensores dos castelos (2). As atalaias eram ocupadas por residentes das localidades próximas (que a documentação refere como “velas”, “vigias” ou “talaeros”), rendidos ao pôr-do-sol por sentinelas nocturnas, chamados “ascuchas”, por terem de se servir da audição em detrimento da visão. Estas posições fixas de vigilância eram complementadas por patrulhas de reconhecimento com sentinelas montadas, as “arrobdas”, que deambulavam pelas regiões em redor, atentos à presença de batedores inimigos (3).

 

Tal como em terra, as atalaias exerciam uma função de vigilância marítima e fluvial contra ataques de pirataria e de corso (4), daí que as encontremos em grande número nas margens dos principais rios, como o Tejo ou o Guadiana, e na costa algarvia. Muitas das atalaias que nos chegaram até hoje, embora originalmente medievais, foram reconstruídas ou modificadas no século XVII, pela sua evidente utilidade no contexto da Guerra da Restauração (1640-1668). Nessa época, as torres foram readaptadas às exigências da artilharia de fogo, edificadas de raiz mas ainda seguindo uma tipologia medieval, ou já construídas em modelo abaluartado, conforme as novas necessidades da pirobalística (5).

(1) Ramos, Tiago Pinheiro (2018). “Nem só com castelo se defendeu a fronteira: atalaias e povoados fortificados na margem esquerda do médio Côa” in Genius Loci: lugares e significados, Livro de Atas de Conferência Internacional, CITCEM, Porto, p. 147.

(2) (3) Monteiro, João Gouveia (1999). Os Castelos Portugueses dos Finais da Idade Média – Presença, Perfil, Conservação, Vigilância e Comando, Edições Colibri, Lisboa, pp. 216-222.

(4) Rei, António (2003). “Dinâmica Defensiva da Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII” (coord. Valdemar Coutinho), Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, Portimão, 2001 in Promontoria, Ano I Número I (2002/2003), pp. 139-140.

(5) Correia, Fernando Branco (2014). “Fortificações modernas do Alentejo raiano – entre Monsaraz e Mértola” in O PELOURINHO – Boletín de Relaciones Transfronterizas, Nº18 (2ª época), Año 2014, pp. 65-65.