Casas-Torre

As casas-torre em Portugal surgiram em fins do século XII tendo-se expandido ao longo da centúria seguinte (1). Estas residências fortificadas (em latim, domus fortis: casa fortificada) encontram-se tanto nas cidades - servindo de habitação a nobres, clérigos e mercadores (2) (3) - como em zonas rurais do Entre-Douro-e-Minho e Beira Interior, onde se localizava uma maior percentagem de propriedades senhoriais. No Alto Alentejo, região cujas terras não só começaram a fazer parte de extensas doações régias à nobreza (morgadios), como a ser frequentemente visitada pela Corte, assistiram a um novo período de construção de paços e casas-torre a partir de finais do século XIV (4). Aliando propósitos habitacionais e militares, a arquitectura das casas-torre tem pontos em comum com as torres de menagem dos castelos, cujas características defensivas e símbolos de estatuto a nobreza pretendeu assimilar (5) (6) (7) . Estas torres eram geralmente divididas em 2 ou 3 pisos com o espaço térreo ocupado por armazéns de víveres e armas e a área habitacional nos pisos superiores, onde se tinha de subir por escadas exteriores de madeira - e mais tarde em pedra - para se lhes poder aceder (8).

 

Dadas as limitações de espaço, as casas-torre não eram usadas como residências habituais dos fidalgos, que preferiam o conforto de paços mais amplos, sendo apenas ocupados em caso de necessidade militar ou para reafirmar o domínio senhorial sobre as terras que lhes pertenciam (9) (10). Eram muitas vezes rodeadas de pequenas casas de madeira ou pedra que serviam de cozinha, estábulos e de acomodações dos servos e camponeses que trabalhavam para o senhor (11). Infelizmente, muitas dessas estruturas eram precárias e quase nenhumas terão sobrevivido até aos nossos dias. Embora símbolos da nobreza e poder senhorial, a construção destas torres estava dependente de autorização régia, de acordo com a lei do ius crenelandi. Sob tal legislação, os monarcas podiam ordenar a destruição de torres não autorizadas, especialmente se ameaçassem os direitos que a Coroa achava ter sobre certos territórios (12).

(1) (5) (8) (9) (12) Silva, José Custódio V. da (1995). Paços Medievais Portugueses (Coord. Mafalda Magalhães Barros e Mário Pereira), IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa: Edições Asa, S.A, pp. 47-64.

(2) Afonso, Daniel Borges B. (2012). “A rua na construção da forma urbana medieval: Porto, 1386-1521”, Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, p. 66.

(3) Portela, Ana M. & Queiroz, Francisco (2008). A Casa Nobre e o Urbanismo: apropriação e criação de espaço público como estratégias de afirmação de poder, Actas do II Congresso Internacional “Casa Nobre: um Património para o Futuro” (Arcos de Valdevez, 14 e 15 de Novembro de 2008), p. 561.

(4) Contreiras, Margarida dos S. (2019). “A Casa Forte Alentejana na Transição da Época Medieval para a Época Moderna”, Dissertação de Mestrado em História Medieval pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, p. 29.

(6) Conde, Manuel S. A. & Vieira, Marina A. (1999). “A habitação e a arquitectura corrente do Norte Transmontano em finais da Idade Média” in Paisagens rurais e urbanas entre a Idade Média e os Tempos Modernos, (coord. Iria Gonçalves), CEH – Centro de Estudos Históricos da FCSH: Universidade Nova de Lisboa. pp. 16-17.

(7) (10) (11) Conde, Manuel S. A. (2017). “Casas e Espaços Habitacionais no Tempo de D. Afonso Henriques: O que Sabemos e o que Gostaríamos de Saber Sobre a Casa no Período da Formação de Portugal” in No Tempo de D. Afonso Henriques, Reflexões sobre o Primeiro Século Português (Coord. Mário Jorge Barroca), Ed: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, p. 180.

(12) Barroca, Mário J. (2019). “D. Dinis e a Arquitectura Militar Portuguesa” in História: Revista Da Faculdade De Letras Da Universidade Do Porto, 15(1), pp. 807-808.