Castelos e muralhas urbanas

Como por toda a Europa, os castelos são os símbolos por excelência da Idade Média em Portugal. Construídos para defesa e vigilância, mas também como símbolos de poder e prestígio, estas estruturas militares imponentes marcam, desde há séculos, uma presença profunda na paisagem nacional (1). Distribuídos de forma mais ou menos uniforme por todo o território e em articulação com as muralhas das vilas e cidades que cresciam à sua sombra e com outras fortalezas e torres atalaias próximas, os castelos asseguravam uma defesa mútua e controlo territorial mais eficaz (2). Encontramo-los não só ao longo das fronteiras naturais dos cursos dos rios Mondego, Tejo ou Guadiana, protegendo os antigos eixos de comunicação terrestres e fluviais dos avanços e recuos da “Reconquista”, mas também ao longo de toda a fronteira norte e leste, organizados em várias linhas de bloqueio paralelas para retardar possíveis invasões leonesas ou castelhanas. Ao redor de algumas das principais cidades do reino, como Coimbra, Lisboa ou Évora, formavam autênticos anéis de protecção (3).

 

Os castelos portugueses apresentam uma mistura dos vários estilos construtivos de cada época, resultado da constante reutilização e evolução das estruturas, mesmo que tal não tivesse impedido o seu progressivo abandono a partir do século XVI. Não obstante se terem tornado obsoletos, continuaram a ser usados como armazéns, paióis de pólvora ou mesmo cemitérios até inícios do século XX, contribuindo para que alguns não tivessem caído em total ruína. Nas décadas de 1930 a 1950, o regime do Estado Novo empreendeu uma grande campanha de restauro e reconstrução de várias fortalezas por todo o país, e embora, ao contrário das ideias que subsistem na narrativa popular, não os tivessem (re)inventado completamente, esses restauros obedeceram, na sua maioria, a uma certa visão da época (ideológica ou mesmo cultural) sobre qual o aspecto original que deveria ter um "típico" castelo medieval português.

(1) Duarte, Luís Miguel (2004). “Um País de besteiros e castelos (A guerra em Portugal na Baixa Idade Média)” in Guerra y Diplomacia en la Europa Occidental: 1280-1480, Semana de Estudios Medievales (Navarra), Ed: Gobierno de Navarra, Institución Príncipe de Viana, p. 295.

(2) Monteiro, João Gouveia (1999). Os Castelos Portugueses dos Finais da Idade Média – Presença, Perfil, Conservação, Vigilância e Comando, Edições Colibri, Lisboa, p. 22.

(3) Martins, Miguel Gomes (2016). Guerreiros de Pedra – Castelos, Muralhas e Guerra de Cerco em Portugal na Idade Média, Ed: A Esfera dos Livros, Lisboa, pp. 341-342.