Paços Régios, Nobres, Episcopais e Municipais

Os paços (do latim palatiu: palácio) foram as mais importantes moradas de reis, nobres e altos dignatários do clero durante o período medieval. Mesmo que algumas vezes tenham sido construídos dentro dos recintos dos castelos, tentado imitar o aspecto fortificado destes, ou tendo as fortalezas evoluído para uma função mais residencial, a partir do século XV, o carácter eminentemente civil e habitacional dos paços, oferecendo maior conforto, distingue-os claramente dos castelos e até das casas-torre, que não só antecedem, como se estabelecem a partir destas em vários casos (1). Dentre eles sobressaem os paços régios e os da nobreza, construídos nas alcáçovas das cidades, em áreas rurais de caça ou simplesmente para veraneio, como símbolos máximos do poder e de afirmação do rei sobre os súbditos. O sentido de poder que se torna inerente ao paço (2) reflectir-se-ia igualmente na administração municipal, com as câmaras dos paços dos concelhos, edifícios onde se realizavam as reuniões dos homens-bons da vereação para discutir e decidir sobre assuntos locais (3).

 

Sem embargo não existirem vestígios materiais de paços anteriores ao final do século XIII, é conhecida a organização interna de estruturas posteriores: habitualmente divididas em sala (área pública de recepção), antecâmara, câmara (quartos de dormir), trescâmara (guarda-roupa) e oratório (capela), listados de acordo com os seus tamanhos e privacidade (4). No exterior, aos paços com apenas um piso térreo depressa foram adicionados sobrados (segundo andar) assim como pátios, varandas, alpendres e hortos: espaços de cultivo que se transformaram em jardins de recreio e passeio (5). Ao longo dos séculos XIV a XVI a construção de novos paços acelerou, resultado da procura por melhores condições de habitabilidade quer no campo, quer nas cidades (6).

(1) (2) (3) (4) (5) Silva, José Custódio V. da (1995). Paços Medievais Portugueses (Coord. Mafalda Magalhães Barros e Mário Pereira), IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa: Edições Asa, S.A, pp. 19-36.

(2) Carita, Helder (2017). “Paço, Solar, Sobrado, Palácio e Palacete: Nomenclaturas da Casa Senhorial da Idade Média ao Século XIX” in IV Colóquio Internacional – A Casa Senhorial: Anatomia dos Interiores, RS: Universidade Federal de Pelotas, 7, 8 e 9 de junho de 2017, p. 247.

(3) Trindade, Luísa (2012). “Casas da Câmara ou Paços do Concelho: Espaços e Poder na Cidade Tardo-Medieval Portuguesa” in Evolução da Paisagem Urbana – Sociedade e Economia (Coord. Maria do Carmo Ribeiro & Arnaldo Sousa Melo). Ed: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, p. 209.

(4) Conde, Manuel S. A. (2017). “Casas e Espaços Habitacionais no Tempo de D. Afonso Henriques: O que Sabemos e o que Gostaríamos de Saber Sobre a Casa no Período da Formação de Portugal” in No Tempo de D. Afonso Henriques, Reflexões sobre o Primeiro Século Português (Coord. Mário Jorge Barroca), Ed: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, p. 177.

(5) Santos, Marta I. R. dos (2019). “O Paço como ‘habitação simbólica’ hierarquizadora de um território na contemporaneidade – O Paço Real de Belas como polo de reabilitação patrimonial”. Projecto Final de Mestrado para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, p. 52.

(6) Melo, Arnaldo S. & Ribeiro, Maria do C. (2013). “O Processo Construtivo dos Paços Régios Medievais Portugueses nos Séculos XV-XVI: O Paço Real de Sintra” in História da Construção – Arquiteturas e Técnicas Construtivas. Ed: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” / LAMOP – Laboratoire de Médiévistique Occidentale de Paris (Université de Paris 1 et CNRS), p. 214.