1 a.c., 2006 | Tratado de Arquitectura

Título curto

1 a.c., 2006 | Tratado de Arquitectura

Título completo

Vitrúvio. Tratado de Arquitectura. Tradução do latim, introdução e notas por M. Justino Maciel

Autor

Vitrúvio

Data 1ª edição

27 - 22 a.c.

Citação 1

DA CHOUPANA À CASA   
7. Depois, em seguida, instruindo-se pelo espírito e progredindo com reflexões mais aprofundadas desenvolvidas a partir da multiplicidade das artes, começaram a levantar já não cabanas mas casas com alicerces, construídas com paredes de tijolo ou de pedra e cobertas por madeira e telha, posteriormente passando, dos juízos vagos e incertos, à certa racionalidade das comensurabilidades, através das observações das obras. Quando se aperceberam da prodigalidade dos recursos proporcionados pela natureza e da abundância dos materiais por ela disponibilizados para as edificações, fizeram a sua gestão trabalhando-os, deste modo valorizando mais, através das artes, gratamente, o nível de vida. Daí que eu me refira, como puder, a estas coisas que são convenientes para uso nos edifícios, suas características e qualidades.
[Livro II, Capitulo I, 73]

AS AREIAS
1. Quanto às estruturas de formigão, deve-se em primeiro lugar procurar areia que seja apropriada à mistura dos materiais e não haja terra misturada. As espécies de areias fósseis são estas: negra, branca, vermelha e carbúnculo. Entre elas, será melhor a que fizer um estridor ao ser friccionada na mão; a que for terrosa, porém, não terá aspereza. Também, se for posta num pano branco e depois de sacudida e lançada fora não o manchar nem ali deixar terra, será boa.
[Livro II, Capitulo IV, 77]

DEFEITOS DAS AREIAS MARINHAS
2. Se todavia, não houver areeiros onde se possa explorar, então deverá ser recolhida dos rios ou de cascalho, e mesmo até do litoral marítimo. Mas esta revela nas estruturas os seguintes defeitos: seca dificilmente e a parede não aguenta ser sobrecarregada de modo constante nem pode suportar abóbadas, a não ser que se apoie em estruturas descontínuas. Com a areia marinha, a situação agrava-se, porque as paredes, quando os revestimentos são nelas aplicados, ao repelirem a salsugem, sofrem a dissolução do seu reboco.
[Livro II, Capitulo IV, 77]

CARACTERÍSTICAS DAS AREIAS
3. A verdade é que as areias fósseis secam rapidamente nas estrutura, permanecem nos revestimentos, aguentam as abóbadas, no caso de serem extraídas recentemente dos areeiros. Se, na realidade, permanecem durante muito tempo abandonadas, alteradas pelo sol, pela lua e pela geada, enfraquecem, tornando-se terrosas. Ao serem inseridas assim na estrutura, não conseguem manter ligados os calhaus, pois estes desagregam-se, enfraquecem e as paredes não podem aguentar as cargas. Tendo, porém, as areias fósseis de extracção recente tantas qualidades nas estruturas, por causa da sua densidade, elas não se tornam vantajosas nos revestimentos, porque a força da cal misturada com a palha não permite secar sem deixar fissuras. A areia fluvial, todavia, devido à sua magrez, recebe consolidação no revestimento, como acontece na obra signina com as técnicas de alisamento.
[Livro II, Capitulo IV, 77]

A CAL
1. Tendo tratado dos recursos de areias disponíveis, deverá também recorrer-se, com diligência, à cal, devendo ser queimada a partir de pedra branca ou de tufo calcário; será útil nas estruturas a que for de pedra sólida e mais dura, e nos revestimentos a de pedra porosa. Apagada a cal, misturar-se-á a argamassa, de modo a que se lancem nela três partes de areia, no caso de ser de origem fóssil, para uma parte de cal; se de origem fluvial ou marinha, misturem-se duas partes de areia com uma de cal. Deste modo se conseguirá a proporção ideal de caldeamento. Também se se acrescentar, como terça parte a esta areia fluvial ou marinha, cerâmica cozida em forno, moída e passada ao crivo, conseguir-se-á uma mistura de argamassa de melhor aplicação.
[Livro II, Capitulo V, 78]

A COZEDURA DA CAL
2. Assim, pois, quando a cal recebe a água e a areia, então ela consolida a estrutura, parecendo que a causa disso é que as pedras são constituídas, como os restantes corpos, pelos elementos atrás referidos. As que têm mais ar são moles; as que têm mais água ficam mais maleáveis, devido à humidade; as que têm mais terra são duras; as que têm mais fogo são mais frágeis. E assim, se estas pedras forem lançadas na estrutura, desfeitas em bocados misturados com a areia, antes de serem queimadas, elas não se consolidam nem poderão manter coesa a construção. Quando, todavia, forem lançadas no forno e perderem a força da primitiva dureza, causticadas pelo veemente ardor do fogo, então, estancadas e exauridas das suas forças, ficarão com os seus interstícios expostos e vazios.
[Livro II, Capitulo V, 78]

FUNÇÃO DA CAL E DA AREIA
2. Um e outro deverão ser executados com pequeníssimos materiais, a fim de que as paredes se mantenham consolidadas durante muito tempo, enchidas abundantemente de cal e areia. Pois se forem macios e de pouca densidade, esses materiais fazem ressecar, exaurindo-o, o constituinte húmido da argamassa. Todavia, sendo dominante e em abundância a quantidade de cal e areia, tendo a parede mais humidade não perderá facilmente a sua resistência, antes será mantida por elas. Mas se a força do elemento líquido for completamente sugada da argamassa pela porosidade dos calhaus, ao mesmo tempo que a cal se separa da areia e se dissolve, também aqueles não se poderão agregar com estes elementos, e as paredes ameaçarão ruína com o passar do tempo.
[Livro II, Capitulo VIII, 83]

Citação 2

A IMPORTÂNCIA DA MADEIRA NAS PRIMITIVAS CONSTRUÇÕES 
4. Podemos verificar, com efeito, que estas coisas foram estabelecidas a partir das origens que acima descrevemos, porque até ao dia de hoje nas nações estrangeiras se levantam edifícios segundo estas práticas, como na Gália, Hispânia, Lusitânia, Aquitânia, seja com varas de roble, seja com palha de colmo. Na nação dos Colcos, no Ponto, devido à abundância de florestas, colocadas árvores inteiras horizontalmente à esquerda e à direita sobre a terra, e deixado entre elas um espaço correspondente ao seu comprimento, dispõem-se outras transversalmente sobre os seus extremos, os quais delimitam o espaço central da habitação. Unindo então, em cima, os ângulos nas quatro partes com traves alternadas, e assim dispondo as paredes com as árvores na vertical desde os fundamentos, levantam torres e tapam com folhas e com lama os interstícios que surgem devido ao tosco da madeira. Também erguem os telhados deixando descair nos extremos as vigas, que cruzam, juntando-as gradualmente, e assim levantam pirâmides em altura, ao centro, a partir dos quatro lados, as quais formam coberturas abobadadas de torres segundo o costume bárbaro, revestindo-os com folhagem e lama.
[Livro II, Capitulo I, 72]

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ÁRVORES
1. A madeira deverá ser cortada desde o começo do Outono até um pouco antes daquele tempo em que o vento favónio começa a soprar. Pois na Primavera todas as árvores estão cheias de vida e todas produzem, por si próprias, o desabrochar da folhagem e dos frutos anuais. Quando, porém, o correr imperioso daquelas estações as tornar despidas e húmidas, elas ficarão vazias, enfraquecidas e com pouca densidade; o mesmo acontece com os corpos das mulheres quando concebem, os quais não se consideram em boa saúde até ao parto, nem mesmo os das que são vendidas como escravas, se estiverem grávidas, são tidos como saudáveis, porque crescendo no corpo o embrião, ele tira para si o alimento a partir de todas as fontes nutritivas e quanto mais forte se torna, até ao mais alto grau de desenvolvimento no parto, tanto menos ele deixa ficar sólido aquele corpo a partir do qual foi criado. Uma vez dada à luz a criança, o corpo, que antes se encontrava esvaído para outro tipo de crescimento, entretanto tornado independente com o termo de processo criativo, passa a receber de novo com prazer nas suas veias inanes e abertas a seiva, deste modo se consolidando e voltando ao antigo estado natural de robustez.
[Livro II, Capitulo IX, 90]

O ROBLE, O OLMO, O CHOUPO, O CIPRESTE E O ABETO
5. As árvores, com efeito, têm características diferentes e dissemelhantes umas das outras, nomeadamente o roble, o olmo, o choupo, o cipreste, o abeto e outras que são em alto graus úteis nas edificações. Não se pode fazer com o roble o que se faz com o abeto, com o cipreste ou com o olmo, nem as demais árvores possuem entre si naturalmente as mesmas semelhanças, mas, conforme as características dos elementos constitutivos de cada um dos géneros, elas se apresentam preparadas para soluções de variada ordem.

PROCESSO DE CORTE DO ABETO         
7. Considerando esta árvore antes de ser cortada, a parte que está próxima da terra, recebendo através das raízes, dada a proximidade, o elemento líquido, é a que se apresenta sem nós e húmida; quando a parte superior, lançados para os ares com a força do calor os ramos através dos nós, é cortada à altura de cerca de vinte pés e é desbastada, ela é classificada de 'fusterna' por causa da dureza desses nós. No que respeita à parte mais baixa, uma vez seccionada em quatro linhas de corte e retirado o alburno da mesma árvore, disponibiliza-se para os madeiramentos interiores, sendo chamada parte inferior do abeto.  

CARACTERÍSTICAS DO CARVALHO-QUERCO
8. Em contrapartida, o carvalho-querco abundando até à saciedade de elementos terrestres, e tendo pouco de humidade, ar e fogo, quando é enterrado em construções de terra, tem uma longuíssima duração. Por isso, quando é tocado pela humidade, não possuindo aberturas de poros, devido à sua densidade não poderá receber em si a água, antes, fugindo do elemento líquido, resiste, torce-se e origina fissura nas obras em que é empregue.
[Livro II, Capitulo IX, 92-93]

O CARVALHO-ÉSCULO E O CARVALHO-CERRO, A FAIA, O CHOUPO BRANCO E O NEGRO, O SALGUEIRO, A TÍLIA E O AGNOCASTO
9. Quanto ao carvalho-ésculo, porque possui equilibradamente todos os elementos, esse apresenta enormes vantagens nas edificações. Mas quando é colocado em contacto com a humidade, recebendo profundamente o elemento líquido através dos seus poros e lançando fora os princípios aéreo e ígneo, ele corrompe-se por acção da força da humidade. O carvalho-cerro e a faia, porque apresentam uma mistura equilibrada dos elementos líquido, ígneo e terreno e uma maior quantidade de ar, recebendo profundamente a água pelos poros abertos, celeremente se degrada. O choupo-branco e o choupo-negro, assim como o salgueiro, a tília, o agnocasto, tendo abundância de fogo e de ar, temperado de água e com pouco de princípio terreno, apresentando uma mistura equilibrada e leve, parecem proporcionar uma notável resistência no seu uso. Embora não sejam endurecidas pela mistura com o elemento terreno, ganham uma cor clara, devido à sua porosidade, e proporcionam um talhe cómodo para a escultura.

USO DO ÁLAMO NA ESTACARIA
10. O álamo, que se cria próximo das margens dos rios e parece muito pouco útil para madeira, guarda em si, porém, um notável interesse. É composto em grande parte pelos elementos de ar e de fogo, não muito de terra, e pouco de água. Sendo cravado cerradamente em estacarias nos lugares palustres sob os fundamentos de edifícios, recebendo em si a água que tem a menos na sua constituição, permanece são no decorrer do tempo e aguenta enormes cargas construtivas, conservando-se sem deficiências. Assim, esta madeira, que só pode durar algum tempo fora da terra, permanece em tempo longo quando submersa na humidade.
[Livro II, Capitulo IX, 93]              

UTILIDADE DO OLMO E DO FREIXO
11. Podemos verificar isto claramente em Ravena, porque aí todos os edifícios, públicos e privados, apoiam as suas fundações em estacas. Por sua vez, o olmo e o freixo apresentam uma máxima quantidade de água, um mínimo de ar e de fogo, e um doseamento equilibrado de terra na sua composição. Revelam-se brandos quando trabalhados nas obras, não têm vigor devido ao peso da humidade e rapidamente se encurvam. Mas desde que se façam secar ao longo do tempo, ou no campo, se deixem morrer de pé deitando fora a seiva que neles existe, tornam-se mais duros e garantem sólidos travamentos, pela estabilidade que proporcionam aos paramentos e junturas.
[Livro II, Capitulo IX, 93-94]                 

A MADEIRA DE CARPA, DE CIPRESTE E DE PINHEIRO
12. Também a carpa, que tem uma composição com muito pouco de fogo e de terra e um máximo de ar e de humidade, não é frágil, mas proporciona uma utilíssima aptidão para as obras. E daí que os Gregos, que fazem desta maneira os jugos dos animais de tiro, chamando-se, por isso, entre eles, 'zyga' aos jugos, denominem esta arvore de 'zygia'. Não menos nos devemos admirar do cipreste e do pinheiro, porque tendo abundância de água e uma igual distribuição dos restantes elementos, costumam encurvar-se nas obras, devido a esse excesso de humidade, conservando-se todavia sem falhas pelo tempo fora, e isto porque a seiva resinosa que se encontra profundamente nas suas texturas tem um sabor amargo, o qual, devido à sua acidez, não permite que entre a podridão ou aqueles insectos que são nocivos. Por isso, as obras erigidas com estas espécies de madeira perseveram numa duração ilimitada.
[Livro II, Capitulo IX, 94]

A RESISTÊNCIA AO FOGO POR PARTE DO LARÍCIO
14. O larício, por sua vez, apenas conhecido nos territórios municipais do vale de Pó e no litoral do mar Adriático, não só não é atingido pela podridão e pelos insectos, devido ao forte amargor da sua seiva, como até nem recebe a chama do fogo nem se pode incendiar apenas por si, a não ser que se queime com outras madeiras, como sucede com a pedra que se coze na fornalha para cal; mesmo assim, não recebe a chama nem origina carvão, durando a sua combustão muito tempo. Porque é mínima a sua constituição com os elementos de fogo e de ar, encontra-se, todavia, consolidado com os de água e de terra, não dispondo de aberturas de poros por onde o fogo possa entrar, e assim rejeita a sua investida, não permitindo que ele facilmente o prejudique; por outro lado, devido ao seu peso, não flutua na água, pelo que, quando se transporta, é colocado em barcos ou sobre jangadas de abeto.
[Livro II, Capitulo IX, 94-95]

IMPORTÂNCIA DA MADEIRA DE LARÍCIO PARA EVITAR INCÊNDIOS NAS 'INSULAE'
16. Assim fizeram rapidamente os soldados, amontoando esses materiais. Logo que a chama envolveu a lenha em torno daquela torre de madeira, elevando-se ao céu, fez pensar, como parecia, que já toda a estrutura desabava. Mas quando o fogo se extinguiu por si mesmo e tudo parou, a torre surgiu intacta; admirado, César ordenou que fizessem uma linha de circunvalação para lá do alcance dos projécteis. E como assim, levados pelo temor, os habitantes capitulassem, foi-lhes perguntado de onde vinham aquelas madeiras que não eram danificadas pelo fogo. Mostraram então aquelas árvores de que há grandes quantidades nesse lugar. E porque o povoado tinha o nome de 'Laringnum', também a madeira foi chamada de 'larigna'. Com efeito, é transportada para Ravena através do Pó; é fornecida às colónias de Fano, de Pisauro, de Âncon e aos restantes municípios nesta região. Se fosse possível transportar esta madeira para Roma, seriam muitíssimas as suas aplicações nos edifícios, se não em todas as partes, pelo menos para colocar tábuas nas cimalhas que circundam as ínsulas, livrando os edifícios do perigo de propagação de incêndios, porque esta madeira nem pode receber nem pode fazer chama ou carvão.
[Livro II, Capitulo IX, 95-96]

Citação 3

AS PEDREIRAS
1. Referi a cal e a areia, quais as suas variedades e características. Segue-se o momento próprio de tratar das pedreiras, das quais se extraem e aprontam as pedras esquadriadas e os fornecimentos de alvenaria para os edifícios. Com efeito, estes materiais apresentam características variadas e diferentes. Uns macios, como os provenientes das pedreiras, perto de Roma, de Pedras Rubras, do Pália, de Fidenas e de Alba; outros, de dureza temperada, como as de Tíbur, de Amiterno, de Soracte e de pedreiras semelhantes; alguns são duros, como os siliciosos. Há-os ainda de outras variadas espécies, como os tufos vermelho e negro, na Câmpania, o branco, na Úmbria, Piceno e Venécia, que se corta mesmo com uma serra dentada como se fosse madeira.
[Livro II, Capitulo VII, 81]  

A PEDRA TIBURTINA
2. Todas aquelas rochas que são macias têm a vantagem de, após serem extraídas, se trabalhar facilmente na obra. Se são usadas em locais cobertos, aguentam o peso da estrutura, mas se são utilizadas em lugares abertos e expostos, são dissolvidas e moídas pelas geadas e pelo gelo do Inverno. Quando junto à orla marítima, corrompem-se, minadas pela salsugem, não suportando os agitados ares do mar. A pedra tiburtina e todas aquelas que são do mesmo género aguentam os rigores das cargas e das tempestades, não podendo, todavia, ser protegidas do fogo, pois logo que são tocadas por ele se partem em bocados e se espalham, porque têm pouco elemento líquido na sua constituição natural, assim como não muito de princípio terreno, antes uma maior quantidade de ar e de fogo. Portanto, como nelas há menos humidade e menos terra, então também o fogo, empurrado pelo toque e pela força da exalação do ar, entrando profundamente  nos ocos dos seus veios, referve, tomando aí lugar, originando pelas suas próprias substâncias idênticas ardores.
[Livro II, Capitulo VII, 81-82]

QUALIDADES DA PEDRA DE ANÍCIO
3. Há igualmente muitas pedreiras nas terras de Tarquínios, chamadas de Anício, com pedra da mesma cor da de Alba e cujas oficinas se encontram designadamente junto ao lago de Volsínios e na prefeitura de Estatónia. Estas pedras apresentam enormes vantagens: com efeito, nem a estação das geadas nem o toque do fogo as pode prejudicar, pois se apresentam sólidas e por esse motivo se conservam por muito tempo, pelo facto de serem, por natureza, caldeadas de pouco ar e fogo, temperadamente de humidade e muito de princípio terreno. Assim, consolidadas por densos constituintes, não são prejudicadas pelas tempestades nem pela violência do fogo.
[Livro II, Capitulo VII, 82]

CUIDADOS A TER COM A PEDRA DE RUBRAS E DO PÁLIA
5. Se bem que, por causa da proximidade, a necessidade obrigue a que se utilizem os materiais das pedreiras de Pedras Rubras e do Pália e daquelas que se encontram próximo de Roma, deveremos preparar esses materiais segundo o processo que apresentaremos de seguida, se pretendemos obter uma obra sem falhas. Quando se quiser edificar uma obra, as pedras deverão ser extraídas com dois anos de antecedência, não no Inverno, mas no Verão, devendo permanecer expostas em lugares abertos. Aquelas que durante esse biénio ficarem alteradas pelo contacto com as intempéries serão lançadas nas fundações. As que, provadas pela natureza, não ficarem danificadas, poderão resistir dispostas acima da terra. Estes cuidados não são para observar apenas com as pedras de cantaria, mas também com as estruturas de formigão.
[Livro II, Capitulo VII, 82-83]

Citação 4

OS TIJOLOS CRUS
1. Logo em primeiro lugar tratarei dos tijolos dizendo de que qualidade de terra convém fazê-los. Pois não deverão ser elaborados a partir de barro arenoso, que tenha pedras ou areia grossa, porque, se forem produzidos a partir destas variedades, resultarão, logo de início, pesados, e depois, quando nas paredes forem regados pelas chuvas, desfazer-se-ão e dissolver-se-ão, além de que a palha não encontrará neles adesão, por causa da sua aspereza. Deverão, em contrapartida, ser confeccionados a partir de terra esbranquiçada abundante em argila, de terra vermelha ou ainda de vigoroso saibro. Com efeito, estas variedades apresentam consistência devido à sua textura leve, não pesadas na obra e argamassam-se facilmente.
[Livro II, Capitulo III, 75]

PROCESSO DE SECAGEM DOS TIJOLOS CRUS                        
2. Deverão ser confeccionados no tempo primaveril ou outonal, para secarem com uniformidade. Pois os que são argamassados no solstício ficam defeituosos, devido ao facto de o interior não ficar enxuto quando o sol queima violentamente a superfície exterior, fazendo-o parecer seco. E quando posteriormente se contrair secando, destroça o que já estava seco. Assim, ficando rachados, tornar-se-ão inconsistentes. Serão, por outro lado, muitíssimo mais vantajosos se confeccionados com dois anos de antecedência: com efeito, não podem secar completamente antes desse prazo. Por essa razão, quando são aplicados de feitura recente e não secos, permanecendo o revestimento aplicado rigidamente consolidado, os tijolos abatem-se, não podendo manter a mesma altura que apresenta o revestimento e não aderem a ele, deslocados por contracção, separando-se da sua ligação. Portanto, os revestimentos não podem subsistir por si mesmos separados da estrutura, devido à sua tenuidade, mas partem-se, e até fortuitamente as próprias paredes, cedendo, se danificam. Por isso os cidadãos de Útica só usam nas estruturas das paredes o tijolo que esteja seco e confeccionado cinco anos antes, assim comprovado pela vistoria do magistrado.
[Livro II, Capitulo III, 75-76]

ESPÉCIES DE TIJOLOS                                                              
3. Confeccionam-se três espécies de tijolos: uma, que em grego se chama 'lydion', o que é usado entre nós, tem o comprimento de um pé e meio e a largura de um pé. Os edifícios gregos constroem-se com as outras duas espécies: destas, uma diz-se 'pentadoron'; a outra, 'tetradoron'. Ora os Gregos chamam ao palmo 'doron', porque a oferta de dádivas se chama em grego 'doron', e isso sempre se faz através da palma da mão. Por isso diz-se 'pentadoron', porque é de cinco palmos em todos os lados, e 'tetradoron', porque é de quatro. E constroem-se com aquela espécie de tijolo os edifícios públicos e, com esta, os privados.
[Livro II, Capitulo III, 76]

MEIOS TIJOLOS E TIJOLOS DE CERTA REGIÃO DA HISPÂNIA
4. Além disso, como estes, fazem-se meios tijolos. Quando se constrói, põem-se de um lado disposições regulares de tijolos e, de outro, meios tijolos. Dispõem-se na construção, em cada um desses lados, com ajuda de cordel e travam-se as paredes com fiadas alternadas, colocadas as partes médias dos tijolos sobre as junturas, assim originando de um lado e de outro uma aparência sólida e agradável.
Na Hispânia Ulterior existem as cidades de Maxílua e de Callet, e na Ásia a de Pítane, onde os tijolos, quando são confeccionados e secos, sobrenadam se lançados à água. Parece que eles podem flutuar, porque a terra de que são feitos é esponjosa. Assim, porque é leve, consolidada pelo ar, não aceita em si nem absorve a água. Portanto, dadas as suas características de leveza e porosidade, não permitem que a força da água penetre na sua substância: qualquer que seja o seu peso, a natureza obriga a que sejam sustentados pela água, como a pedra-pomes. Deste modo, oferecem grandes utilidades, porque nem são pesados nas construções nem se desfazem quando batidos pelas tempestades.
[Livro II, Capitulo III, 76]

DURABILIDADE DAS PAREDES EM TIJOLO                                         
9. No que respeita às paredes de tijolo, contanto que permaneçam a prumo, nada é deduzido, pois o preço por que outrora foram feitos é o mesmo que continuam sempre a valer. Daí que possamos ver em algumas cidades tanto edifícios públicos como casas privadas e até régias construídas em tijolo: e logo em primeiro lugar, em Atenas, a muralha que olha para os montes Himeto e Pentélico; do mesmo modo em Patras, as celas de tijolo no templo de Júpiter e de Hércules, embora os epistílios e colunas sejam de pedra; na Itália, em Arécio, uma muralha antiga egregiamente levantada. Em Trales, a residência construída para os reis Atálidas, que sempre se dá para habitar àquele que assume o exercício do sacerdócio da cidade. Do mesmo modo, em Esparta, de algumas paredes, recortados os tijolos, também se retiraram pinturas que foram enquadradas em caixilhos de madeira e transportadas para o Comício para adorno da edilidade de Varrão e de Murena.
[Livro II, Capitulo VIII, 85-86]

Citação 5

OS ESTUQUES
1. Estando tratada a questão da feitura dos pavimentos, será agora altura de falar dos estuques. Conseguir-se-á correctamente, com efeito, tal objectivo se se amolecerem, muito tempo antes da realização da obra, pedras de óptima cal, de modo a que, se uma qualquer dessas pedras tiver ficado pouco cozida no forno, ela possa efervescer na água, numa durável maceração, e seja cozida por força de uma única reacção. Na realidade, se for utilizada cal não completamente macerada, mas ainda recente, ela produzirá bolhas quando aplicada, apresentando cálculos não desfeitos. Esses cálculos, quando sujeitos a reacção na obra, dissolvem-se e dissipam os acabamentos do reboco.
[Livro VII, Capitulo II, 265]

MACERAÇÃO DA CAL
2. Logo, porém, que se tenha atingido a norma da maceração da cal, e se tiver conseguido o melhor possível este preparado para a obra, tomar-se-á uma colher de pedreiro e, da mesma maneira que se talha a madeira, assim se temperará com ela a cal no seu recipiente. Se a colher encontrar cálculos, é sinal de que ela não está devidamente fervida; e, também, se o ferro sai seco e limpo, indicará que ela se encontra sem força e seca; porém, quando se apresentar untuosa e correctamente preparada, aderindo em volta desta ferramenta como glúten, dará prova de que, a todos os títulos, se encontra o ponto desejado. Então, pois, apontados os andaimes, montar-se-ão cofragens nos vários compartimentos, a não ser que eles não se destinem a ser ornamentados com lacunários.
[Livro VII, Capitulo II, 265-266]

OS LACUNÁRIOS DOS TECTOS
1. Sempre que, por conseguinte, se quiser aplicar o sistema dos lacunários, proceder-se-á do seguinte modo: dispor-se-ão a espaços intermédios, não superiores a dois pés, ripas direitas, de preferência de cipreste, porque as de abeto rapidamente se deixam deteriorar pela podridão e pelo tempo. Estas ripas, distribuídas segundo a disposição de um círculo traçado a compasso, serão ligadas por fasquias aos madeiramentos ou aos tectos, espessamente fixas com cravos de ferro. Estas fasquias são preparadas a partir daquelas madeiras que nem a podridão, nem o tempo, nem a humidade podem danificar, como o buxo, o junípero, a oliveira, o roble, o cipreste e outros semelhantes, com excepção do carvalho-querco, porque esta árvore, ao empenar, provoca fissuras nas obras em que é utilizada.
[Livro VII, Capitulo III, 266] 

TÉCNICA DA SUA FEITURA
2. Bem aplicadas as ripas, atar-se-lhes-ão, com corda de esparto hispânico, canas gregas pisadas, segundo a forma pretendida. Seguidamente, a madeira da parte superior do tecto será revestida por uma mistura de cal e areia, a fim de que, se caírem algumas gotas de água dos travejamentos ou dos telhados, elas fiquem contidas. Se, todavia, não houver abundância de canas gregas, colher-se-ão das pequenas nos paúis e reforçar-se-ão com um fio, de modo a ficarem dispostas em pequenos molhos, à justa medida do comprimento e com a mesma espessura, contanto que não distem mais de dois pés entre os nós dos feixes de canas, e estes sejam atados pela corda ao ripado, como acima foi escrito, espetando-se nelas pequenas cunhas de madeira. Preparar-se-ão todas as outras coisas, como acima foi dito.
[Livro VII, Capitulo III, 267] 

REBOCO DOS LACUNÁRIOS
3. Dispostas e entrelaçadas as cofragens, rebocar-se-á o seu interior, após o que se juntará areia, completando com greda ou mármore.
Quando os lacunários estiverem concluídos, deverão ser postas cornijas por baixo deles; deverão ser no máximo simples e subtis: com efeito, se forem de grandes proporções, serão obrigadas a descer pelo peso e não poderão aguentar-se. Também nelas não deverá de modo algum ser usado gesso, antes deverão ser recobertas totalmente com mármore passado a crivo, pois o gesso, secando mais depressa, não permite que a obra seque uniformemente. E também deverão ser evitadas as disposições dos Antigos acerca dos lacunários, porque as superfícies planas das suas cornijas, permanecendo suspensas, são pesadas e perigosas.
[Livro VII, Capitulo III, 267] 

REVESTIMENTO DAS PAREDES
5. Completadas as cornijas, deverão ser rebocadas as paredes o mais asperamente possível e depois, por cima deste reboco ainda em processo de secagem, passar-se-ão algumas demãos de areia, de modo que sejam niveladas, no sentido do comprimento, por régua e pelo cordel, no sentido da altura, pelo fio de prumo, e nos ângulos, pelo esquadro. Deste modo, será perfeito o aspecto dos revestimentos nas pinturas. Secando , lançar-se-á uma nova camada e, ainda, uma terceira; assim, quanto mais compacto for o revestimento da mistura de cal e areia, tanto mais firme será a solidez do revestimento, para resistir ao tempo.
[Livro VII, Capitulo III, 268]

USO DO PÓ DE MÁRMORE
6. Quando, para além do reboco, se tiverem aplicado pelo menos três camadas de areia, então deverão ser passadas demãos com pó de mármore triturado, havendo o cuidado de que seja caldeado de tal forma que, ao ser amassado, não adira à colher, mas deixe sair da argamassa o ferro limpo. Após a aplicação de uma grande camada e esta começar a secar, lance-se outra média; quando esta tiver sido posta e bem alisada, aplique-se uma mais fina. Assim, quando as paredes forem consolidadas com três camadas de massa de areia e outras tantas de pó de mármore, não poderão sofrer gretas nem qualquer outro prejuízo.
[Livro VII, Capitulo III, 268]

A TÉCNICA DO FRESCO
7. Uma vez consolidadas pela fricção das talochas e polidas pelo vigoroso branco dos mármores, as paredes difundirão nítidos esplendores, através das cores pintadas sobre os últimos acabamentos. Com efeito, as cores, quando são aplicadas diligentemente com o revestimento húmido, não desaparecem, mas, por isso mesmo, permanecem para sempre, porque a cal, ao ser cozida nos fornos, esvaída de água e com porosidades, obrigada pela secura, apodera-se de tudo o que nela por acaso toca; e, ao tornar-se sólida, congrega partículas ou elementos nas misturas caracterizadas por várias propriedades, sendo formada por todas essas partes do todo, de tal maneira que, ao secar, surge revelando as qualidades que lhe são próprias.
[Livro VII, Capitulo III, 268]

IMPORTÂNCIA DAS VARAS CAMADAS NA CONSOLIDAÇÃO DO FRESCO
8. E, assim, os revestimentos que lhe são feitos correctamente, nem se tornam rugosos com o tempo, nem, quando são limpos, perdem as cores, a não ser que tenham sido pintados pouco diligentemente e em seco. Sempre que, com efeito, estes revestimentos foram executados nas paredes, do modo como acima foi escrito, poderão apresentar as qualidades de solidez, esplendor e duração no tempo. Se forem aplicadas uma única camada de massa de areia e uma única de pó de mármore, sendo a sua pouca espessura menos forte, facilmente gretarão e não obterão esplendor duradouro nos seus acabamentos, por causa da tenuidade da sua grossura.
[Livro VII, Capitulo III, 269]

EFEITOS DE UM BOM POLIMENTO
9. Como um espelho de prata constituído por fina lâmina nos dá reflexos incertos e sem nitidez, e um outro de sólida composição, recebendo em si um polimento de vigorosas forças, devolve aos que o olham imagens citilantes e precisas no aspecto, assim os revestimentos constituídos por argamassa pouco espessa apresentam fissuras e se deterioram rapidamente; pelo contrário, os que estão firmados solidamente numa espessura compacta de massa de areia e de pó de mármore, quando submetidos a polimentos repetidos, não só ficam mais brilhantes como até refletem deste acabamento, para os observadores, nítidas imagens.
[Livro VII, Capitulo III, 269]

MÉTODOS SEGUIDOS PELOS GREGOS
10. Na verdade, entre os Gregos, os estucadores não apenas constroem obras sólidas, de acordo com estas normas, mas também, feita a argamassa e aí misturadas a cal e a areia com uma decúria de trabalhadores, pisam-na como trancas de madeira e só depois de terminado este trabalho a aplicam. Além disso, alguns usam como ortostatos pintados placas retiradas de velhas paredes, e os próprios revestimentos apresentam em volta, na separação dos painéis e respectivos polimentos, cercaduras de baixo-relevo.
[Livro VII, Capitulo III, 269]

REVESTIMENTO DAS PAREDES FEITAS EM 'OPUS CRATICIUM'
11. Se, todavia, os revestimentos são para aplicar em grandes de caniços, nos quais necessariamente se produzem fendas perpendiculares e transversais, porque, quando eles se envolvem com terra amassada, obrigatoriamente recebem humidade e, ao secarem, retraindo-se, originam fissuras nos revestimentos, para evitar que isso aconteça, será este o modo de fazer: quando a parede estiver totalmente impregnada de terra amassada, então fixar-se-ão na estrutura caniços em disposição contínua, com a ajuda de cravos de cabeça larga; depois de aplicada uma segunda camada de terra argamassada, se os caniços referidos estiverem travados por canas maiores em disposição transversal, cravem-se outros na vertical, e finalmente, como acima foi escrito, aplique-se a massa de areia, o pó de mármore e todo o revestimento. Deste modo, a dupla seriação continua dos caniços travada nos muros com as canas transversais não permitirá que se originem rachas ou qualquer fissura.
[Livro VII, Capitulo III, 269-270]

PREPARAÇÃO DOS REBOCOS EM LUGARES HÚMIDOS
1. Falei das regras que convém seguir para executar os revestimentos em lugares secos. Exporei agora como deverão ser conseguidos os acabamentos em lugares húmidos, a fim de que possam permanecer sem estragos. E, em primeiro lugar, nos compartimentos que estiverem no rés-do-chão, ao nível do pavimento, até uma altura de cerca de três pés, misturar-se-á à colher, em vez de areia, cerâmica de construção moída, e aplicar-se-á, a fim de que aquelas partes dos revestimentos não sejam deterioradas pela humidade. Se todavia, alguma parede se apresentar humescente por toda ela, levantar-se-á outra menos espessa um pouco afastada, até onde for possível, colocando-se entre as duas, a uma cota inferior à do chão do compartimento, um canal dispondo de respiradouros para um lugar aberto. Do mesmo modo, quando esta segunda parede estiver construída até ao alto, deixem-se-lhe também orifícios de respiração. Com efeito, se a humidade não puder sair por estas aberturas em baixo e em cima, muito mais se espalhará pela nova estrutura. Concluídas estas coisas, a parede será revestida e consolidada com cerâmica de construção moída, e só então se passará ao revestimento.
[Livro VII, Capitulo IV, 270]

ISOLAMENTO COM PEZ
2. Se, todavia, o lugar não permitir o lançamento dessa parede, abram-se canais de onde saiam respiradouros para uma zona ao ar livre. Depois colocar-se-ão tégulas de dois pés de um lado, sobre o bordo do canal; e do outro, com ladrilhos de oito polegadas, serão construídos pilaretes, nos quais possam assentar os ângulos de duas tégulas, de tal modo que estas distem da parede não mais que um palmo. Seguidamente, por cima, apliquem-se à parede, em disposição vertical, da base até ao cimo, tégulas com ganchos, cujos lados interiores serão emboçados cuidadosamente com pez, a fim de se afastarem de si a humidade: terão igualmente, na base e no topo, por cima do tecto abobadado, respiradouros.
[Livro VII, Capitulo IV, 270-271]

UTILIZAÇÃO DE CERÂMICA DE CONSTRUÇÃO MOÍDA
3. Então, branqueiem-se com cal liquefeita, para que não rejeitem a argamassa de cerâmica de construção moída: de outra maneira, não a poderão receber nem aguentar, devido à secura que lhes vem da cozedura nos fornos, a não ser que a cal aplicada conglutine entre si cada um dos materiais e os obrigue a unir-se. Lançado o emboço, aplique-se a cerâmica de construção moída em lugar da argamassa de areia e completem-se todas as outras coisas, como acima foi escrito acerca das técnicas de revestimento.
[Livro VII, Capitulo IV, 271]

Citação 6

CONSTRUÇÃO DAS ABÓBADAS
As abóbadas, por seu turno, serão melhores se forem construídas em obra cimentícia. Se, todavia, se fizerem madeiramentos, revestir-se-ão com barro. E far-se-á da seguinte maneira: forjar-se-ão réguas ou arcos de ferro que se prendem o mais juntamente possível ao vigamento com ganchos também de ferro. Estes arcos ou réguas serão dispostos de tal modo que no espaço entre uns e outros possam assentar e empuxar tégulas sem rebordos, ficando deste modo todas as abóbadas bem executadas com apoio de ferro. As junturas superiores destes tectos abobadados deverão ser revestidas de argila amassada com cabelo. Quanto à parte interior, na face virada para o pavimento, reboque-se em primeiro lugar com fragmentos de telhas e cal e remate-se depois com estuque ou reboco. Estas coberturas nos caldários terão melhor uso se forem duplas, não podendo assim a humidade do vapor corromper a madeira dos vigamentos, antes se espalhando entre as duas abóbadas.
[Livro V, Capítulo X, 196-197]

Citação 7

PREOCUPAÇÃO COM A SOLIDEZ
1. Os edifícios que são erguidos ao nível do solo permanecerão, sem dúvida, firmes por muito tempo se os seus fundamentos forem estabelecidos do modo que foi exposto por nós nos livros anteriores, na parte respeitante às muralhas e aos teatros. Se, todavia, forem construídos hipogeus e câmaras abobadadas, as suas fundações deverão fazer-se mais espessas do que as estruturas que vierem a ser erguidas nas partes superiores. As suas paredes, pilares e colunas deverão ser colocadas perpendicularmente às direcções em que se encontram os suportes inferiores, de modo a garantir solidez; pois se as cargas das paredes ou das colunas ficarem suspensas não poderão alcançar uma durável solidez.
[Livro VI, Capítulo VIII, 238]

Referência bibliográfica

Vitrúvio. Tratado de Arquitectura, trad. M. Justino Maciel. Lisboa: IST Press, 2006.

Acesso

BNP / Fundo Geral Monografias

Documento

Impresso

título curto

1 a.c. | Tratado de Arquitectura