Anabela e a Pandemia
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Anabela e a Pandemia
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ANABELA E A PANDEMIA
Anabela, a sua graça,
Que de bela pouco tem.
Caminha, lesta, na praça,
Num corredio vaivém.
Com fardamento aprumado,
Entra às nove no seu posto.
Na caixa do supermercado,
Já com a máscara no rosto.
Agora, já ninguém vê
O seu sorriso forçado;
Quando entrega o tiquê
A um cliente irritado.
Mas, entre tanto freguês,
Há um que a acha airosa.
Quando chega a sua vez,
Vê figura vaporosa.
O seu nome é Crispim,
É freguês habitual.
Porque a olha sempre assim?
Isto já é ritual?
Enquanto a moça regista,
Fazendo-o com ligeireza,
Lança Crispim sua vista
Para tanta boniteza.
De fora daquele pano,
Dois olhos negros estão.
E provocam tanto dano
Neste Crispim babadão…
Olhou pra ela e viu
Rapariga oriental.
E o que foi que sentiu?
Um arrepio total.
Era tal a obsessão
Pelos olhos da empregada,
Que o Crispim, sem razão,
Não queria a COVID acabada.
E o seu desejo, afinal:
Ficar todo o dia a olhá-la.
Olhando o olhar fatal
Da que o deixa sem fala.
C.A.P.
maio 2020
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Matosinhos
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16
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Maio
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2020
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Este item foi submetido em 17 de julho de 2020 por Celso Alves Pais usando o formulário "Conte a sua história" do site "Memória COVID": https://projetos.dhlab.fcsh.unl.pt/s/memoriacovid
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