Apresentação

APRESENTAÇÃO DA MOSTRA VIRTUAL

A Ulmeiro, que começou em 1969 enquanto livraria-distribuidora, foi um espaço emblemático no intercâmbio de livros e ideias alternativas, revelando novos escritores latino-americanos, teóricos revolucionários diversos, poetas de correntes inovadoras (beat generation, grupo Árvore, poesia experimental, poesia angolana, etc.) e muitos autores portugueses e outros das mais variadas áreas, dos clássicos aos novíssimos, do cancioneiro à filosofia, além duma mão cheia de talentosos ilustradores e caricaturistas (Ana Leão, António Ole, António Pimentel, Carmen, Cristina Reis, Hugo Beja, João Abel Manta, João Carlos Albernaz, José Rodrigues, Lídia Martinez, Lud, Mário Botas, Vasco, Wanda Ramos, etc.). Surgida em pleno marcelismo, integrou uma constelação de cooperativas, livrarias, editoras e grupos político-culturais que afrontou a ditadura e o colonialismo portugueses e se alimentou de imaginários da resistência e da contracultura. Foi depois também editora, galeria, papelaria e discoteca.

Distribuiu o jornal Crítica (1971/2), duma nova geração universitária donde irromperam Eduarda Dionísio, Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, os dois últimos também promotores da col.º Teatro Ulmeiro. Na viragem para os anos 1980 lançou um periódico ligado à democratização da habitação/urbanismo e ao movimento de moradores (Cidade-Campo). Preocupou-se com a edição de qualidade, que temia já então ameaçada (daí o título da revista Sobreviver), aliando-se a grupos das novas temáticas sociais (ecologia, feminismo, naturismo, antimilitarismo, etc.). Lançou ainda uma revista de cooperação lusófona, Três continentes, em homenagem à internacionalista Tricontinental (ed. por Émile Copferman na Maspero), que colocou na agenda temas esquecidos, como a autodeterminação do povo de Timor-Leste.

Acolheu múltiplas tertúlias, a começar pelos serões musicais de cantautores e compositores da resistência como Zeca Afonso, Carlos Paredes, Vitorino e Francisco Fanhais. Nos anos 1970/80 promoveu a poesia do galego Manuel María e de Ferlinghetti, ícone da beat generation, e os cantos do anarquista francês Léo Ferré. Juntou as sessões de filosofia de Agostinho da Silva e as recitações por Mário Viegas.

Teve a marca duradoura de José Antunes Ribeiro, engagée com a esquerda progressista (internacionalista e revolucionária durante parte desta aventura editorial) e sua produção de ensaio político. Este livreiro-editor-poeta inquieto e inconformista ajudou a renovar a edição literária, sobretudo quanto à novela, à poesia, ao teatro, à recuperação de ‘clássicos’ e aos estudos literários, salientando de par a escrita feminina, com Hélia Correia, Lídia Martinez, Maria Ondina Braga, Noémia Seixas, Wanda Ramos e outras.

A Ulmeiro, que se transformou em Espaço Ulmeiro Associação Cultural para poder prosseguir actividade, fez 50 anos em 2019 enquanto livraria-distribuidora, momento oportuno para revisitar uma experiência colectiva desassombrada que divulgou muitas ideias e obras de criadores da cultura portuguesa e universal.

                Neste sentido, foi realizada uma mostra histórico-documental, que ficou patente durante os meses de Maio a Julho de 2019 no centro cultural Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, nas salas Eduardo Prado Coelho e Marguerite Duras. De livre acesso, teve o patrocínio deste centro cultural, da Espaço Ulmeiro Associação Cultural e do CHAM, NOVA-FCSH, entre outras instituições.

Aproveitando o trabalho de levantamento e pesquisa que lhe subjazeu, considerou-se pertinente deixar um registo mais duradouro e disseminado desses resultados a partir da sua reconfiguração e ampliação em exposição virtual. Esta nova produção foi desenvolvida em 2020, ano em que a Ulmeiro perfez 50 anos enquanto editora. Teve de novo o patrocínio do CHAM, NOVA-FCSH, agora em parceria com o Laboratório de Humanidades Digitais do IHC-NOVA-FCSH, que acolheu o sítio de Internet que o alberga na sua plataforma digital Omeka S.

Além da exposição dos documentos sobre a vida da Ulmeiro, aproveitou-se para fazer a reconstituição integral do catálogo bibliográfico da Ulmeiro e de chancelas associadas (1970-2020), permitindo assim o acesso directo ao seu conteúdo e a pesquisa livre de autores, títulos, colecções e temáticas. Em complemento, e para quem queira aprofundar o conhecimento do legado da Ulmeiro, divulga-se uma bibliografia diversificada: textos sobre autores ou livros da Ulmeiro, testemunhos de autores, leitores e editores da Ulmeiro, estudos sobre a Ulmeiro. Apresenta-se, ainda dois mapas com os pontos de venda dos livros da Ulmeiro em 1970 (em Lisboa e Portugal continental), um conjunto diversificado de entrevistas e documentários sobre a Ulmeiro e seus mentores, e algumas fotografias tiradas aquando da inauguração da mostra física.

 
FICHA TÉCNICA
Equipa produtora
Concepção da exposição: Daniel Melo (https://orcid.org/0000-0003-4573-3497) e Pedro Piedade Marques
Textos da exposição: Daniel Melo 
Design gráfico da exposição: Pedro Piedade Marques
Consultoria: José Antunes Ribeiro 
Recolha documental e bibliográfica: Daniel Melo, José Ribeiro e Pedro Piedade Marques
Selecção documental e bibliográfica: Daniel Melo e Pedro Piedade Marques
Digitalização de materiais: Pedro Piedade Marques
Montagem da exposição: Pedro Piedade Marques e Daniel Melo 
Fotografias: Marta Fiölic e Henrique Duarte
Gravação de documentários: Marta Fiölic e Henrique Duarte
Montagem de documentários: Henrique Duarte
Inserção de conteúdos no website: Daniel Melo, Pedro Piedade Marques e Henrique Duarte
Apoio logístico: Daniel Alves, Danielle Sanches e Joana Vieira Paulino 
 
Parcerias
*CHAM - Centro de Humanidades, NOVA FCSH-UAc
*Edições Fénix
*Espaço Ulmeiro Associação Cultural
*Fábrica Braço de Prata
*Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – NOVA FCSH
*Fólio Exemplar
*Lab_HD - Laboratório de Humanidades Digitais, IHC - Instituto de História Contemporânea, NOVA-FCSH
 
Agradecimentos especiais
*Alexandra Carvalho
*António Ferra
*Daniel Alves
*Danielle Sanches
*Diego Quindere de Carvalho
*Joana Vieira Paulino
*José Ribeiro

 

Citação sugerida: Melo, Daniel e Marques, Pedro Piedade. 2020. «Isto anda tudo ligado»: Ulmeiro 50 anos de intervenção cultural 1969-2019. CHAM, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. [DOI].

 

Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da Norma Transitória - DL 57/2016/CP1453/CT0062.

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