6. Tributos. Agostinho da Silva, Léo Ferré e Ferlinghetti
Em meados da década, e embalado numa nova agitação editorial, a Ulmeiro relançou a edição de Agostinho da Silva, o qual esteve então em várias tertúlias na Ulmeiro para falar sobre filosofia, a sua vida e obra, sendo o autor com mais títulos na editora, saindo o 14.º em 2020.
Promoveu ainda a vinda de dois renomados intelectuais estrangeiros, Léo Ferré (1984) e Lawrence Ferlinghetti (1986). Do cantor anarquista francês publicou então um álbum homónimo, org. por Manuel João Gomes, Luiza Neto Jorge e Judite Cília. Nessa Primavera Léo conversou na Universidade de Lisboa, onde já autografou o seu álbum português.
Seguiu-se o norte-americano Ferlinghetti, poeta e livreiro-editor da beat generation, que veio falar da era dos robotechs e da obra da sua geração, e declamou poemas novos sobre “Os elevadores de Lisboa”. Fez uma digressão pelo país em 1986, com o seu companheiro de ofício José Ribeiro, o jornalista-escritor Rui Ferreira e Sousa/ Jaime Rocha, o artista plástico André Shan Lima e a sua esposa Isabelle Lima. Este casal traduziu então uma antologia de poemas seus, distribuída pela Ulmeiro.
Foto-montagem de 4 capas de livros de Agostinho da Silva [Esp. JAR]:
►Uns poemas de Agostinho, de Agostinho da Silva (col. Obras de Agostinho da Silva, 1989); ►Um Agostinho da Silva: correspondência com o autor, org. de José Flórido (Pragal, Almada, col. Biblioteca Ulmeiro, n.º 20, 1995; 3.ª ed. de 1999); ►Sanderson e a escola de Oundle, de Agostinho da Silva (col. Obras de Agostinho da Silva, 1990, v.o.1941, ed. Inquérito); ►A educação de Portugal, de Agostinho da Silva (2ª ed., col. Obras de Agostinho da Silva, n.º 2, 1990).
Artigo “Elogio da balança de ourives”, de Pedro Alvim, Diário de Lisboa, 28/8/1989, p. 27 [BNP] e trecho do post “Onde o autor se explica qualquer coisinha”, de JAR, Voo da Coruja [blogue], 31/5/2006.
A publicação de 13 obras do filósofo Agostinho da Silva tornaram-no no autor cimeiro do catálogo da Ulmeiro e atestam uma deliberada intenção de recuperar uma referência do pensamento contemporâneo português. A sua importância no catálogo da Ulmeiro foi reconhecida por JAR em testemunho no seu blogue e acompanhada por recensões críticas na imprensa.
Contracapa, capa e folha com dedicatória do livro Léo Ferré (Ulmeiro, 3/1984), [Esp. JAR].
Artigo “Um louco que berra a sua loucura”, de Lourdes Féria, Diário de Lisboa, 23/3/1984, p. 2 [HM/CML].
Fotografia de sessão dedicada a Léo Ferré (auditório da FLUL, 27/3/1984) [Esp. JAR].
A paixão pela poesia levou a Ulmeiro a dedicar um esmerado álbum ao cantautor anarquista francês Léo Ferré, que se deslocou a Portugal para sessões de autógrafos com casa cheia, como a do auditório da Faculdade de Letras de Lisboa, a 27/3/1984, plasmada na foto adjunta (na qual também figura o editor) e que o Diário de Lisboa anunciara em texto de fundo por Lourdes Féria (vd. supra). O álbum chamou-se simplesmente Léo Ferré e foi organizado por Manuel João Gomes, Luiza Neto Jorge e Judite Cília, com fotografia de Carlos Gil na capa.
Foto-montagem com 3 fotografias da digressão e sessão dedicadas a Lawrence Ferlinghetti, em 1986, figurando o próprio, José Ribeiro, Isabelle Lima, leitoras não identificadas e André Shan Lima [Esp. ASL; Esp. JAR].
Reportagem “Lawrence Ferlinghetti: «vivemos na era dos robotechs»", de Rui Ferreira e Sousa, Jornal de letras, artes e ideias, ano 6, n.º 212, 28/7-3/8/1986, capa e p. 6/7 [BNP].
Plano de capa do livro A boca da verdade, de Lawrence Ferlinghetti e por si autografada (distr. Ulmeiro, 1986, trad. André Shan Lima e Isabelle Lima), [Esp. JAR].
Capa do livro Cartas de Yage, de William Burroughs e Allen Ginsberg (col. Mínima, n.º 3, 1994, il. Lídia Martinez), [Esp. JAR].
Depois da poesia francesa, a Ulmeiro virou-se para a poesia americana da beat generation, convidando o livreiro-editor Lawrence Ferlinghetti para uma estadia em Portugal, em 1986. Nessa digressão pelo país, que incluiu sessões de autógrafos, foi acompanhado pelo seu companheiro de ofício José Antunes Ribeiro, pelo jornalista-escritor Rui Ferreira e Sousa e pelo pintor André Shan Lima e sua esposa, Isabelle Lima.
Uma extensa reportagem do JL feita no Verão de 1986 por um dos colaboradores da Ulmeiro aborda o percurso e as ideias do fundador da livraria-editora City Lights e refere a sua origem judia, descendente dos Mendes Monsanto que fugiram da perseguição da Inquisição rumo a França. Inclui um excerto do poema «Os elevadores de Lisboa», escrito por Ferlinghetti nesse Julho e dedicado ao cicerone na capital, o cantautor Jorge Palma, além de fotos da sua digressão por Portugal. Embora o JL anunciasse, no seu n.º seguinte, que a Ulmeiro seria a futura editora dos seus livros, tal não se concretizou.
A digressão de Ferlinghetti por Portugal serviu também para lançar uma tradução de poemas seus, em livro distribuído pela Ulmeiro e traduzido pelos amigos André Shan Lima e Isabelle Lima, nesse ano de 1986. A dedicatória de Ferlinghetti a JAR no respectivo plano de capa indicia uma cumplicidade artística, ideológica e de ‘ofício’. Até então havia apenas uma tradução deste autor em Portugal, Como eu costumava dizer, editada pela Publicações D. Quixote em 1979. Mais tarde, a Ulmeiro regressou a esta geração e editou As cartas de Yage, de Burroughs e Ginsberg, com capa de Lídia Martinez e tradução de David Allan Prescott e Teresa Alexandra Prescott.
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