8. Livrarias de bairro. O antidepressivo livre de receita médica

A Ulmeiro foi desde início um espaço ancorado na vida bairrista, elo comunitário para vários grupos sociais.

Foi-o com o clube juvenil, que ao teatro juntou sessões de cinema aos sábados de manhã, mostrando Charlot aos miúdos. Com uma equipa de futebol, apelidada de UNICEF. E também com o convívio quotidiano com vizinhos, que levou Lúcia Ribeiro a constatar que a livraria Ulmeiro servia de antidepressivo para muitas pessoas.

Esta realidade foi reconhecida pelas autoridades locais (louvor por unanimidade de todos os partidos representados na Junta de Freguesia de Benfica) e teve como corolário as celebrações do 25.º aniversário da Ulmeiro, em 1994.

A Ulmeiro continuou a ser um lugar de encontro para além das sessões de resistência, dinamizando em 2002 uma visita guiada pela Benfica de Lobo Antunes (no ciclo Viagens com Escritores, em parceria com a editora Alma Azul) e com serões como os do ciclo «Poetas Sem Rede», em 2012, ou associando-se à Poesia no Parque (Castelo Branco, 2010).

A irrupção de feroz concorrência (boa parte desleal) – hipermercados (1985), centros comerciais Fonte Nova (1987) e Colombo (1997), concentração livreira (Bertrand, 1993, FNAC, 1998) e conglomerados da edição (v.g., Porto Editora e Leya) – repercutiu-se financeiramente e estimulou a busca de vias alternativas de intervenção e venda, permitindo aproximar-se dos leitores e frequentadores fiéis mas também estender canais de comunicação a um auditório mais vasto.

Daí a fundação, em Almada, da Ulmeiro 2 Editores – Livreiros Lda., nos anos 1990, com sócios duma sociedade de publicidade e que se lançou de modo pioneiro no segmento dos livros de ocasião (restos de colecção). Daí também a atenção às feiras do livro de âmbito local (p.e., a Ulmeiro 40 anos, em 2009, e Feirinha da Ladra «Ulmeiro», em 2011) e a participação em feiras doutros organizadores, como a da APEL. Ou a opção pioneira pela venda de livros usados na Internet, via redes sociais, desde 2013.

O fecho da sociedade comercial e sua substituição pela Espaço Ulmeiro Associação Cultural e a editora Fólio Exemplar, em 2010/11, prosseguiu com coerência os objectivos culturais principais. Foi também um acto de resistência, tal como a formação do Clube do Espaço Ulmeiro (31/III/2014) e a coautoria duma petição pública em prol da bibliodiversidade e da leitura (de 2018).

8.1

Post “«Salva», a gatinha dourada”, de Alexandra Carvalho, Retalhos de Bem-Fica [blogue], 21/8/2009.

 

8.2-8.3

Duas fotografias da livraria Ulmeiro com os seus leitores (anos 1980), [Esp. JAR].

 

8.4

Fotografia do placard com a programação do ciclo de sessões culturais do 25.º aniversário da Ulmeiro, realizado na Junta de Freguesia de Benfica, em 1994 [Esp. JAR].

 

8.5

Fotografia de José Antunes Ribeiro com o escritor António Lobo Antunes em mesa do ciclo de sessões culturais do 25.º aniversário da Ulmeiro, 1994 [Esp. JAR].

 

8.6

Fotografia do público numa das sessões culturais do 25.º aniversário da Ulmeiro, 1994 [Esp. JAR].

 

8.7

Excerto do post “Lógos | Entrevista a José Antunes Ribeiro”, por Adília César e Fernando Esteves Pinto, Lógos – Biblioteca do Tempo [blogue], 27/2/2018.

 

8.8

Post “«Poetas Sem Rede» - Serão Poético no Espaço Ulmeiro”, por JAR, Retalhos de Bem-Fica [blogue], 28/11/2012.

 

8.9

Post “«Ulmeiro/Livrarte»… 40 anos a resistir”, com entrevista de Alexandra Carvalho a Lúcia Ribeiro, Retalhos de Bem-Fica [blogue], 15/2/2009.

 

8.10

Artigo “Ulmeiro promove Festa do Livro em Benfica”, de Anabela Mendes, Público, 22/12/1994, p. 43-supl.º Local [Esp. JAR].

 

8.11

Comunicado “Liquidação (quase) total”, de JAR, 15/9/2011.

 

8.12

Excerto do post “Lógos | Entrevista a José Antunes Ribeiro”, por Adília César e Fernando Esteves Pinto, Lógos – Biblioteca do Tempo [blogue], 27/2/2018.

 

8.13

Página da petição pública “Carta aberta para sair da crise no sector do livro e da leitura”, Petição Pública [website], datada de 17/4/2018 e inserida a 18/4/2018.

 

8.14-8.15

Reportagem “Guia para salvar o sector do livro”, de Luís Miguel Queirós, Público , 2/5/2018, p. 28/9.

 

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