1485, 2011 | Da Arte Edificatória
Título curto
1485, 2011 | Da Arte Edificatória
Título completo
Da Arte Edificatória. Tradução do original latino intitulado 'De Re Aedificatoria', segundo o texto da 'Edizioni Il Polifilo', Milão, 1966
Autor
Leoni Battista Alberti
Data 1ª edição
1485
Citação 1
LEON BATTISTA ALBERTI COMEÇA O LIVRO TERCEIRO: A CONSTRUÇÃO
[...]
CAPÍTULO XIV
Há, de facto, vários tipos de abóbadas. Devemos procurar saber em que se distinguem umas das outras e por que linhas são formadas. Terei de forjar nomes para ser fácil e o mais claro possível, como é minha intenção esforçar-me por sê-lo ao máximo nestes livros. E que não me esqueço de que o poeta Énio usou a expressão "as imensas abóbadas de céu", e que Sérvio disse que as cavernas são aquelas que são feitas em forma de fundo de um barco. Mas peço vénia para que nestes livros se considere que foi dito em latim aceitável aquilo que, relativamente ao objecto, for entendido não só com propriedade, mas também com clareza.
Há os seguintes géneros de abóbadas: a de berço, a de ângulo e a esférica regular, e outras que são partes destas. De entre elas, só a esférica regular, dada a sua natureza, se coloca sobre muros que se elevam a partir de uma área circular. A de ângulo, por seu lado, destina-se às áreas quadradas. As de berço cobrem áreas quadrangulares, sejam elas curtas ou compridas, como vemos nos criptopórticos. A abóbada que é construída à semelhança de um túnel num monte será aqui chamada abóbada de berço. Será como se a um arco juntasses uma série de arcos, ou como se tomasses a largura de uma trave curva e a estendesses e prolongasses muito no mesmo plano; com isso conseguiremos que uma espécie de muro curvo paire como cobertura sobre as nossas cabeças. Se, porém, esta abóbada de berço, prolongada, suponhamos, no sentido norte sul, for cortada em todas as suas linhas por uma outra, perpendicular a ela, que avança de oriente para ocidente, ambas formarão uma abóbada a que, pela semelhança com os cornos inflectidos para dentro, orientados para os cantos, chamaremos de ângulo. Mas se vários arcos, iguais entre si, se intersectarem mutuamente no mesmo ponto, no cimo e ao centro, formarão uma abóbada semelhante ao céu: assim, a partir daí parece-nos bem chamar-lhe esférica.
As abóbadas que são formadas por algumas partes destas, são as que se seguem. Se a natureza dividir o hemisfério celeste em duas partes segundo uma secção perpendicular e rectilínea, de oriente para ocidente, proporcionará duas abóbadas gémeas, que servem de cobertura a dois vãos semicirculares. Se, porém, por idêntico processo, a natureza delimitar e seccionar o hemisfério celeste do ângulo oriental ao ângulo meridional, e deste ângulo ao ângulo ocidental, e deste ao ângulo setentrional, e deste ao primeiro ângulo oriental, deixará no meio uma abóbada a que nós chamaremos "vela", pela semelhança que tem com uma vela enfunada. Por seu lado, aquela para cuja construção concorrem várias partes de uma abóbada de berço, tal como vemos naquelas que cobrem áreas de seis ou oito ângulos, a essa chamaremos esférica de aresta.
Na construção das abóbadas, seguir-se-á a mesma técnica que foi usada nos muros. Dos ossos dos muros, elevar-se-ão ossos inteiros até ao fecho da abóbada, e serão construídos e dispostos aqui do mesmo modo que no muro, mantendo entre si uma distância determinada. Estender-se-ão, todavia, ligamentos entre os ossos, e os complementos intermédios serão preenchidos com enchimento. Mas há diferenças na sua construção: no muro as pedras e cada uma das fiadas são unidas e compostas entre si com a régua direita, o esquadro e o nível, ao passo que na abóbada as fiadas e todas as juntas da pedra são dirigidas, com uma régua curva, para o centro do seu arco. Os antigos quase em lado nenhum utilizaram ossos que não fossem de tijolo cozido, e este mesmo, na maior parte dos casos, com dois pés de tamanho; e recomendam que acabes os complementos das abóbadas com pedra levíssima, para que os muros não acabem por ser danificados por um peso excessivo. No entanto, tenho verificado que alguns tinham por costume não fazer sempre os ossos muito sólidos, mas inseriam espaçadamente tijolos colocados de lado, ligando entre si as extremidades em forma de pente, como se alguém entrelaçasse as pontas dos dedos da mão direita com as pontas dos da mão esquerda. E tinham por hábito encher os espaços intermédios com entulho de pedra e cal, e particularmente com pedra-pomes, que todos confessam ser entre todas a pedra mais apropriada ao enchimento das abóbadas.
Para construir os arcos e as abóbadas é necessária uma armação. Esta consiste num esqueleto rude e provisório, definido por uma superfície curvilínea que se cobre de ramos entrelaçados ou de canas, ou de outros materiais sem valor, à maneira de couro ou de pele, para sustentar o enchimento na abóbada, até ficar dura. Há, no entanto, entre as abóbadas, uma, a esférica perfeita, que não necessita de armação, uma vez que consta não só de arcos, mas também de anéis. E quem poderá referir ou imaginar o número incalculável de arcos e anéis, unidos e ligados reciprocamente, interseccionando-se em ângulos iguais e desiguais, de tal modo que, em qualquer ponto da abóbada em que inserires uma pedra, te apercebes de que acabas de colocar uma peça comum a vários arcos e anéis? E imagina por onde há-de começar quem, depois de ter colocado anel sobre anel e lançado um arco para outro arco, quiser desmanchar essa obra, sobretudo estando todas as peças orientadas para um único centro com iguais forças e tenacidade. Vários dos antigos abusaram de tal maneira de solidez deste tipo de abóbada que assentaram apenas em alguns pés simples anéis de barro cozido, e completaram o resto da abóbada com um enchimento desordenado, despejando caliça e pedra. Mas eu aprovo muito mais aqueles que, durante a construção, procuraram que nas abóbadas os anéis inferiores se unissem aos superiores mais próximos e os arcos também se unissem entre si em pontos bastante numerosos, com a mesma técnica com que ligaram as pedras ao muro, sobretudo se não abundar a areia de mina, ou se a obra estiver exposta às rajadas do mar e do Austro.
Também poderás levantar, sem nenhuma espécie de armação, uma abóbada de ângulo esférica, contanto que por dentro da sua espessura insiras uma abóbada esférica regular. Mas aí é absolutamente necessária uma ligação que permita fixar, com toda a firmeza, as partes mais frágeis da primeira nas partes mais resistentes da segunda. Todavia, é importante que, lançados já e endurecidos um ou vários anéis, a eles se prendam correias leves e grampos, aos quais possas confiar uma armação suficiente para sustentar os anéis que são construídos por cima a alguns pés de altura, até que acabem de secar; e, em seguida, quando estas partes tiverem também endurecido, convém deslocar estes suportes da armação para o mesmo número de filas a fim de concluíres a parte superior, e até dares a obra por concluída.
A abóbada de ângulo, e igualmente a de berço, é preciso que sejam construídas sobre armações. Mas eu gostaria que se confiassem as primeiras fiadas e os arranques dos arcos a suportes muito sólidos. Não me agradam aqueles que primeiro erguem o muro todo, deixando apenas os suportes das mísulas, as quais possam depois confiar a abóbada: obra pouco sólida e instável. Por isso, se me derem ouvidos, estes arcos serão construídos ao mesmo tempo e a par das mesmas fiadas do muro em que se integram, a fim de que essa construção se una por múltiplas ligações e as mais sólidas que é possível ser. Quanto aos espaços vazios deixados entre o arranque dos arcos das abóbadas e o muro em que se integram, aos quais os operários dão o nome de rins, devem ser enchidos não de terra ou de escombros desfeitos e secos, mas antes de um aparelho ordinário e sólido, e ligado uma e outra vez ao muro. Também satisfazem os que, para aliviar o peso, introduzem na espessura dos rins vasilhas de água, de barro, vazias, rachadas e colocadas de boca para baixo, para evitar que aumentem de peso com a humidade nelas recolhida, e que em cima despejaram uma massa de pedra com o mínimo de peso, mas ao mesmo tempo tenaz.
Finalmente, por toda a abóbada, seja de que tipo for, imitaremos a natureza, que não só juntou os ossos uns aos outros, como também entreteceu as próprias carnes com os nervos, intercalados em ligação por todas as direcções, ao comprido, ao largo, ao alto e em oblíquo. Sou de opinião que devemos imitar este artifício da natureza para inserir as pedras nas abóbadas.
Concluída esta fase do trabalho, a próxima é fazer a cobertura: tarefa tão necessária quanto difícil; para executar e levar a cabo, nela colaboraram, uma e outra vez, o empenho e a diligência de todos. É disso que vamos falar. Mas antes importa mencionar um aspecto que se prende directamente com a construção das abóbadas. É que há diferenças na maneira de acabar as abóbadas. De facto, o arco ou a abóbada que devem ser feitos com uma armação colocada por baixo deles, é preciso que sejam construídos com rapidez e sem interromper o trabalho; mas uma abóbada que se faz sem armação necessita de interrupções quase em cada fiada, até que os materiais solidifiquem, não vá suceder que as últimas partes a serem acrescentadas às anteriores, ainda não suficientemente consolidadas, se desagreguem e desmoronem. E, além disso, às abóbadas construídas com armação, convém, logo que forem colocadas aduelas superiores, afrouxar, por assim dizer, os suportes em que a armação está apoiada. Isso, para que as aduelas, colocadas há pouco numa obra ainda fresca, não andem a nadar entre as escoras e a camada de cal, mas ocupem, uma vez equilibrados os seus pesos, uma posição ajustada de mútuo apoio; de outro modo, as aduelas colocadas em cima, à medida que vão secando, não se agregariam cerradamente, como a obra exige, mas, pousadas umas nas outras, abririam fendas. Por conseguinte, faça-se assim: não se retirem inteiramente as armações, mas afrouxem-se lentamente dia a dia, para que daí não se siga uma obra imperfeita, se forem tiradas intempestivamente; alguns dias depois, conforme a dimensão da obra, afrouxa ainda mais um bocado; e procede assim seguidamente, até que, por toda a abóbada, as aduelas de pedra se ajustem entre si e o trabalho solidifique. É este o modo de afrouxar a armação: quando a assentares em pilares, ou onde for conveniente, em primeiro lugar colocas, por baixo das extremidades, cunhas de madeira aguçadas à semelhança de um machado de dois gumes; quando, pois, quiseres afrouxar, com um martelo afastarás essas cunhas pouco a pouco, quanto pretenderes, sem perigo.
Finalmente, determino que a armação não seja retirada antes de ter suportado um Inverno. Isso, entre outros motivos, principalmente para que a obra, enfraquecida e desconjuntada pela humidade das chuvas, não venha a desmoronar; embora nada seja mais vantajoso para as abóbadas do que absorver água em abundância e em ponto nenhum estarem secas. Basta o que foi dito sobre este assunto.
[Livro III, Capítulo XIV, 266-271]
[...]
CAPÍTULO XIV
Há, de facto, vários tipos de abóbadas. Devemos procurar saber em que se distinguem umas das outras e por que linhas são formadas. Terei de forjar nomes para ser fácil e o mais claro possível, como é minha intenção esforçar-me por sê-lo ao máximo nestes livros. E que não me esqueço de que o poeta Énio usou a expressão "as imensas abóbadas de céu", e que Sérvio disse que as cavernas são aquelas que são feitas em forma de fundo de um barco. Mas peço vénia para que nestes livros se considere que foi dito em latim aceitável aquilo que, relativamente ao objecto, for entendido não só com propriedade, mas também com clareza.
Há os seguintes géneros de abóbadas: a de berço, a de ângulo e a esférica regular, e outras que são partes destas. De entre elas, só a esférica regular, dada a sua natureza, se coloca sobre muros que se elevam a partir de uma área circular. A de ângulo, por seu lado, destina-se às áreas quadradas. As de berço cobrem áreas quadrangulares, sejam elas curtas ou compridas, como vemos nos criptopórticos. A abóbada que é construída à semelhança de um túnel num monte será aqui chamada abóbada de berço. Será como se a um arco juntasses uma série de arcos, ou como se tomasses a largura de uma trave curva e a estendesses e prolongasses muito no mesmo plano; com isso conseguiremos que uma espécie de muro curvo paire como cobertura sobre as nossas cabeças. Se, porém, esta abóbada de berço, prolongada, suponhamos, no sentido norte sul, for cortada em todas as suas linhas por uma outra, perpendicular a ela, que avança de oriente para ocidente, ambas formarão uma abóbada a que, pela semelhança com os cornos inflectidos para dentro, orientados para os cantos, chamaremos de ângulo. Mas se vários arcos, iguais entre si, se intersectarem mutuamente no mesmo ponto, no cimo e ao centro, formarão uma abóbada semelhante ao céu: assim, a partir daí parece-nos bem chamar-lhe esférica.
As abóbadas que são formadas por algumas partes destas, são as que se seguem. Se a natureza dividir o hemisfério celeste em duas partes segundo uma secção perpendicular e rectilínea, de oriente para ocidente, proporcionará duas abóbadas gémeas, que servem de cobertura a dois vãos semicirculares. Se, porém, por idêntico processo, a natureza delimitar e seccionar o hemisfério celeste do ângulo oriental ao ângulo meridional, e deste ângulo ao ângulo ocidental, e deste ao ângulo setentrional, e deste ao primeiro ângulo oriental, deixará no meio uma abóbada a que nós chamaremos "vela", pela semelhança que tem com uma vela enfunada. Por seu lado, aquela para cuja construção concorrem várias partes de uma abóbada de berço, tal como vemos naquelas que cobrem áreas de seis ou oito ângulos, a essa chamaremos esférica de aresta.
Na construção das abóbadas, seguir-se-á a mesma técnica que foi usada nos muros. Dos ossos dos muros, elevar-se-ão ossos inteiros até ao fecho da abóbada, e serão construídos e dispostos aqui do mesmo modo que no muro, mantendo entre si uma distância determinada. Estender-se-ão, todavia, ligamentos entre os ossos, e os complementos intermédios serão preenchidos com enchimento. Mas há diferenças na sua construção: no muro as pedras e cada uma das fiadas são unidas e compostas entre si com a régua direita, o esquadro e o nível, ao passo que na abóbada as fiadas e todas as juntas da pedra são dirigidas, com uma régua curva, para o centro do seu arco. Os antigos quase em lado nenhum utilizaram ossos que não fossem de tijolo cozido, e este mesmo, na maior parte dos casos, com dois pés de tamanho; e recomendam que acabes os complementos das abóbadas com pedra levíssima, para que os muros não acabem por ser danificados por um peso excessivo. No entanto, tenho verificado que alguns tinham por costume não fazer sempre os ossos muito sólidos, mas inseriam espaçadamente tijolos colocados de lado, ligando entre si as extremidades em forma de pente, como se alguém entrelaçasse as pontas dos dedos da mão direita com as pontas dos da mão esquerda. E tinham por hábito encher os espaços intermédios com entulho de pedra e cal, e particularmente com pedra-pomes, que todos confessam ser entre todas a pedra mais apropriada ao enchimento das abóbadas.
Para construir os arcos e as abóbadas é necessária uma armação. Esta consiste num esqueleto rude e provisório, definido por uma superfície curvilínea que se cobre de ramos entrelaçados ou de canas, ou de outros materiais sem valor, à maneira de couro ou de pele, para sustentar o enchimento na abóbada, até ficar dura. Há, no entanto, entre as abóbadas, uma, a esférica perfeita, que não necessita de armação, uma vez que consta não só de arcos, mas também de anéis. E quem poderá referir ou imaginar o número incalculável de arcos e anéis, unidos e ligados reciprocamente, interseccionando-se em ângulos iguais e desiguais, de tal modo que, em qualquer ponto da abóbada em que inserires uma pedra, te apercebes de que acabas de colocar uma peça comum a vários arcos e anéis? E imagina por onde há-de começar quem, depois de ter colocado anel sobre anel e lançado um arco para outro arco, quiser desmanchar essa obra, sobretudo estando todas as peças orientadas para um único centro com iguais forças e tenacidade. Vários dos antigos abusaram de tal maneira de solidez deste tipo de abóbada que assentaram apenas em alguns pés simples anéis de barro cozido, e completaram o resto da abóbada com um enchimento desordenado, despejando caliça e pedra. Mas eu aprovo muito mais aqueles que, durante a construção, procuraram que nas abóbadas os anéis inferiores se unissem aos superiores mais próximos e os arcos também se unissem entre si em pontos bastante numerosos, com a mesma técnica com que ligaram as pedras ao muro, sobretudo se não abundar a areia de mina, ou se a obra estiver exposta às rajadas do mar e do Austro.
Também poderás levantar, sem nenhuma espécie de armação, uma abóbada de ângulo esférica, contanto que por dentro da sua espessura insiras uma abóbada esférica regular. Mas aí é absolutamente necessária uma ligação que permita fixar, com toda a firmeza, as partes mais frágeis da primeira nas partes mais resistentes da segunda. Todavia, é importante que, lançados já e endurecidos um ou vários anéis, a eles se prendam correias leves e grampos, aos quais possas confiar uma armação suficiente para sustentar os anéis que são construídos por cima a alguns pés de altura, até que acabem de secar; e, em seguida, quando estas partes tiverem também endurecido, convém deslocar estes suportes da armação para o mesmo número de filas a fim de concluíres a parte superior, e até dares a obra por concluída.
A abóbada de ângulo, e igualmente a de berço, é preciso que sejam construídas sobre armações. Mas eu gostaria que se confiassem as primeiras fiadas e os arranques dos arcos a suportes muito sólidos. Não me agradam aqueles que primeiro erguem o muro todo, deixando apenas os suportes das mísulas, as quais possam depois confiar a abóbada: obra pouco sólida e instável. Por isso, se me derem ouvidos, estes arcos serão construídos ao mesmo tempo e a par das mesmas fiadas do muro em que se integram, a fim de que essa construção se una por múltiplas ligações e as mais sólidas que é possível ser. Quanto aos espaços vazios deixados entre o arranque dos arcos das abóbadas e o muro em que se integram, aos quais os operários dão o nome de rins, devem ser enchidos não de terra ou de escombros desfeitos e secos, mas antes de um aparelho ordinário e sólido, e ligado uma e outra vez ao muro. Também satisfazem os que, para aliviar o peso, introduzem na espessura dos rins vasilhas de água, de barro, vazias, rachadas e colocadas de boca para baixo, para evitar que aumentem de peso com a humidade nelas recolhida, e que em cima despejaram uma massa de pedra com o mínimo de peso, mas ao mesmo tempo tenaz.
Finalmente, por toda a abóbada, seja de que tipo for, imitaremos a natureza, que não só juntou os ossos uns aos outros, como também entreteceu as próprias carnes com os nervos, intercalados em ligação por todas as direcções, ao comprido, ao largo, ao alto e em oblíquo. Sou de opinião que devemos imitar este artifício da natureza para inserir as pedras nas abóbadas.
Concluída esta fase do trabalho, a próxima é fazer a cobertura: tarefa tão necessária quanto difícil; para executar e levar a cabo, nela colaboraram, uma e outra vez, o empenho e a diligência de todos. É disso que vamos falar. Mas antes importa mencionar um aspecto que se prende directamente com a construção das abóbadas. É que há diferenças na maneira de acabar as abóbadas. De facto, o arco ou a abóbada que devem ser feitos com uma armação colocada por baixo deles, é preciso que sejam construídos com rapidez e sem interromper o trabalho; mas uma abóbada que se faz sem armação necessita de interrupções quase em cada fiada, até que os materiais solidifiquem, não vá suceder que as últimas partes a serem acrescentadas às anteriores, ainda não suficientemente consolidadas, se desagreguem e desmoronem. E, além disso, às abóbadas construídas com armação, convém, logo que forem colocadas aduelas superiores, afrouxar, por assim dizer, os suportes em que a armação está apoiada. Isso, para que as aduelas, colocadas há pouco numa obra ainda fresca, não andem a nadar entre as escoras e a camada de cal, mas ocupem, uma vez equilibrados os seus pesos, uma posição ajustada de mútuo apoio; de outro modo, as aduelas colocadas em cima, à medida que vão secando, não se agregariam cerradamente, como a obra exige, mas, pousadas umas nas outras, abririam fendas. Por conseguinte, faça-se assim: não se retirem inteiramente as armações, mas afrouxem-se lentamente dia a dia, para que daí não se siga uma obra imperfeita, se forem tiradas intempestivamente; alguns dias depois, conforme a dimensão da obra, afrouxa ainda mais um bocado; e procede assim seguidamente, até que, por toda a abóbada, as aduelas de pedra se ajustem entre si e o trabalho solidifique. É este o modo de afrouxar a armação: quando a assentares em pilares, ou onde for conveniente, em primeiro lugar colocas, por baixo das extremidades, cunhas de madeira aguçadas à semelhança de um machado de dois gumes; quando, pois, quiseres afrouxar, com um martelo afastarás essas cunhas pouco a pouco, quanto pretenderes, sem perigo.
Finalmente, determino que a armação não seja retirada antes de ter suportado um Inverno. Isso, entre outros motivos, principalmente para que a obra, enfraquecida e desconjuntada pela humidade das chuvas, não venha a desmoronar; embora nada seja mais vantajoso para as abóbadas do que absorver água em abundância e em ponto nenhum estarem secas. Basta o que foi dito sobre este assunto.
[Livro III, Capítulo XIV, 266-271]
Referência bibliográfica
Alberti, Leon Battista. Da Arte Edificatória. Trad. Arnaldo Monteiro do Espírito Santo, intr. e notas Mário Júlio Teixeira Kruger. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1485) 2011.
Acesso
BFCG
Acesso digital
Documento
Impresso
título curto
1485, 2011 | Da Arte Edificatória