White Lotus (Mike White, 2021) uma história singular – Primeira Parte

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Título do recurso

White Lotus (Mike White, 2021) uma história singular – Primeira Parte

Autor

Inês Brasão

Data

2021

Local

Havai

Editora

HBO

Descrição

“Aí vêm eles. Sorriam. Acena, Lani. Isso mesmo. Acena com entusiasmo, Lani. Lani, sei que é o teu primeiro dia e não sei como era noutros lugares, mas aqui desencorajamos a autorevelação. Especialmente com estes vips que chegam de barco. Não sejas muito específica, enquanto presença e identidade; sê mais genérica. Há um ethos japonês que nos ensina a que desapareçamos por detrás da máscara de ajudantes agradáveis e permutáveis. É um Kabuki tropical. O objetivo é criar uma impressão geral e vaga para os hóspedes. Pode ser muito satisfatório. Eles obtêm tudo o que querem, mas nem sabem o que querem, nem que dia é, nem onde estão, nem quem somos, nem….
Quando avistamos Armond e um pequeno grupo de funcionários na receção do grupo de turistas à ilha onde fica situado o Hotel White Lotus, são estas as palavras dirigidas à estagiária Lani. Lani é uma jovem trabalhadora que dará início ao trabalho de parto no lobby do hotel ainda no decurso do primeiro episódio. Uma das sinopses disponíveis sobre White Lotus refere que a série retrata “As aventuras dos funcionários e hóspedes de um resort tropical durante uma semana.” Não temos a certeza de que estejamos apenas a assistir a um conjunto de aventuras. Talvez ainda mais do que na segunda temporada, igualmente avassaladora sobre este e outros pontos de vista, a primeira temporada vai desenrolar várias linhas de enredo entre funcionários e clientes. As que ficaram para a história, arriscamos, foram as desenroladas entre Armond e Shane Patton; Tany McQuiod e Belinda, e entre Paula e Kai. A primeira de ódio mútuo, a segunda de uma cumplicidade falhada, a terceira de teor sexual e identitária.
Em todos os casos podemos interpretações que permitem compreender um conjunto de imaginários ligado ao serviço hoteleiro, mas por hoje o que gostaríamos de enfatizar prende-se com um dos mais interessantes acontecimentos da série. Pela primeira vez, ou pelo menos de uma forma que costuma ser muito improvável, é nos bastidores de um hotel que Armond, exaurido de um cliente que o persegue, se lança numa verdadeira orgia com um grupo de outros funcionários. Na segunda vez em que se entrega a este deboche, diz para o seu party mate: “vamos a isto.”. Sim, a história não acaba bem para Armond, mas é um sorriso que lhe vemos na cara antes do último sopro. A este propósito, é interessante que Mike White não quis ser complacente. Nas três ligações, quem sairá a perder são Armond, Belinda e Tai. Apesar disso, deixou o esgotado gerente fazer o seu festim onde achamos que ele nunca há. E esse lado reverso, o hotel do avesso, fica como um passo memorável nos retratos sobre esse espaço que é um hotel.

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