Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas
Item
Título do recurso
Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas
Autor
Realização: Tânia Dinis | Argumento: Pedro Bastos e Tânia Dinis | Produtor: Patrícia Gonçalves e Tânia Dinis
Data
Estreia Mundial: 20 de 2024
Descrição
"Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas”, realizado por Tânia Dinis, foi o filme vencedor do prémio de melhor curta nacional, na edição de 2024 do Festival Indie. Através de uma pesquisa alicerçada em arquivos e recolha de testemunhos, somos transportados para uma história da cidade do Porto que rasga as vestes da bela panorâmica e alcança o interior humano das suas casas. Dentro dessas casas eram acolhidas crianças vindas das aldeias próximas para tomar conta de outras crianças: as das famílias abastadas do Porto. Assim se encontrava uma forma de poder ter sapatos nos pés, a troco de abrigo, uma estratégia dos pais para possibilitar às filhas (na maior parte, no feminino) esse conforto: ter um teto e um chão sem terra.
O filme (20’) permite reconstituir o percurso destas mulheres trabalhadoras, na altura designadas “criadas de servir”, mulheres que hoje têm as mãos velhas e a pele muito cansada. O grande plano das suas mãos, acusando forte esclerose, remetem para o peso das águas geladas de lavar e cozinhar que correm sem fim no trabalho reprodutivo. De alguma forma, esta é uma preciosidade que o filme nos oferece: vemos estas mulheres, tantos anos volvidos, recuperando a memória do seu quotidiano enquanto jovens, e enumerando as exigências, cumplicidades, caprichos, medos, tarefas, aprendizagens, repetições e amores. Neste filme ninguém fala por elas; são elas a falar por si, e nós a escutarmos, ao mesmo tempo que vamos acedendo a um conjunto de imagens de arquivo que nos contextualizam os espaços, a desigualdade, os rostos. Em particular, uma das imagens mostra-nos um grupo de raparigas entre o final da infância e o início da juventude, alinhadas numa escadaria, um pouco atafulhadas na sua arrumação para o plano da máquina fotográfica, mas sobretudo dizendo-nos muito além das aparências porque se percebe que no seu rosto e corpo estão as marcas de uma origem social extremamente desfavorecida, sujeita à fome e outras formas de privação. Quase ao abandono, diríamos. Esta forma de filmar a história social, e a história das mulheres portuguesas, as que foram servidoras, contrasta com outras narrativas visuais que não escapam à tentação da nostalgia, ou da ridicularização, pretendendo sobretudo reconstituir percursos apagados, mas que no fundo sempre estiveram, e estão, demasiado próximos e demasiado presentes.
O filme (20’) permite reconstituir o percurso destas mulheres trabalhadoras, na altura designadas “criadas de servir”, mulheres que hoje têm as mãos velhas e a pele muito cansada. O grande plano das suas mãos, acusando forte esclerose, remetem para o peso das águas geladas de lavar e cozinhar que correm sem fim no trabalho reprodutivo. De alguma forma, esta é uma preciosidade que o filme nos oferece: vemos estas mulheres, tantos anos volvidos, recuperando a memória do seu quotidiano enquanto jovens, e enumerando as exigências, cumplicidades, caprichos, medos, tarefas, aprendizagens, repetições e amores. Neste filme ninguém fala por elas; são elas a falar por si, e nós a escutarmos, ao mesmo tempo que vamos acedendo a um conjunto de imagens de arquivo que nos contextualizam os espaços, a desigualdade, os rostos. Em particular, uma das imagens mostra-nos um grupo de raparigas entre o final da infância e o início da juventude, alinhadas numa escadaria, um pouco atafulhadas na sua arrumação para o plano da máquina fotográfica, mas sobretudo dizendo-nos muito além das aparências porque se percebe que no seu rosto e corpo estão as marcas de uma origem social extremamente desfavorecida, sujeita à fome e outras formas de privação. Quase ao abandono, diríamos. Esta forma de filmar a história social, e a história das mulheres portuguesas, as que foram servidoras, contrasta com outras narrativas visuais que não escapam à tentação da nostalgia, ou da ridicularização, pretendendo sobretudo reconstituir percursos apagados, mas que no fundo sempre estiveram, e estão, demasiado próximos e demasiado presentes.